1 April 2009

Papagaio não precisa diploma


Nem só de jornalistas com diplomas se faz uma democracia e cada vez que vejo este debate, a primeira pergunta que me vem a cabeça é: os jornalistas realmente estão engajados com a notícia e com a sociedade? Ou isso é apenas receio de ainda mais competição no já saturado mercado de trabalho brasileiro?.

Muito se fala do risco de se ter uma impressa onde interesses privados e motivações particulares prevalecem.

Isso já ocorre nas empresas de comunicação, onde a preocupação com a grade comercial é superior ao tratamento dado a notícia e quem ainda não se deu conta, com certeza há anos não passa na redação de um jornal ou revista.

Há mais de cinco anos morando e exercendo jornalismo em Londres, acompanhei de perto campanhas onde a mídia inglesa exerceu papel fundamental para uma sociedade melhor.

De campanhas forçando leis a serem revistas, funcionários do governo demitidos por má conduta e iniciativas para preservar a cultura de certas áreas do país, de tudo se tem um pouco. Não trata-se de iniciativas para aumentar as vendas ou número de assinantes. Trata-se de uma necessidade latente de mudar, de mover pessoas em uma direção, de lutar por objetivos comum ao leitor.
E com isso vem o respeito.
Contraditoriamente essa preocupação vem do país recordista em tablóides e onde diversos jornalistas nunca passaram por uma universidade de comunicação.

Estas iniciativas, não raramente, uniram jornais que no dia-a-dia competem nas bancas e emissoras de TV que divergem em suas linhas editoriais – mas que concordam que o papel do jornalismo não é apenas divulgar o que acontece na sociedade mas sim usar este quarto poder como um instrumento para fazer com que a sociedade aconteça de forma positiva.

Isso prova que, independente de um diploma, liberdade de imprensa também é feita de idéias. E o mais importante: a imprensa pode gerar notícia, mudar hábitos, alcançar melhorias.

As univerdades de comunição ao redor do mundo tem se preocupado em ensinar como manter a ética, o que é uma pauta, como usar um microfone, etc.
Inovação, compromisso social, busca de novas idéias, engajamento do público, ousadia e ganchos que vão além da notícia raramente são assuntos de bancos escolares e ficam limitados a outros cursos como se jornalista fosse um papagaio. E quem disse que papagaio precisa de diploma para falar?

Talvez, mais importante do que discutir a importância de um diploma (ou a eliminação dele), seja discutir o papel do jornalismo como ferramenta indispensável à população. Sem o reconhecimento de que o jornalismo não se limita a repetir fatos, questionar, trazer respostas ou preencher o espaço entre programas vespertinos e novelas do horário nobre, esta é uma profissão que muito breve que não vai precisar de diploma algum pelo simples fato de correr o risco de ser extinta.

Márcio delgado é jornalista, graduado pela UFRN e publicitário pela Central St. Martins, em Londres.
http://www.marciodelgado.com/

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